Mês de Novembro. Mês em que se celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil (20 de Novembro), instituído como data comemorativa em 2011, em memória do dia em que faleceu Zumbi dos Palmares, em 1695. A data foi proposta na década de 1970 pelo Grupo Palmares, uma associação activista (que existiu entre 1971 e 1978) do movimento negro no Brasil. Zumbi é reconhecido como um importante líder no Brasil por ter lutado pela libertação das pessoas negras face ao regime escravocrata. Nas escolas e em vários eventos (públicos ou de iniciativa individual) a data serve para lembrar que vidas negras importam e que é preciso continuar a lutar contra o racismo e contra a discriminação racial, étnica e religiosa. Tal acontece através da promoção de debates que discutem esta questão – transversal à sociedade e não apenas às pessoas negras – mas também a partir de iniciativas que promovem a importância de conhecer e respeitar as diferenças e práticas culturais diversas. E é neste mês, contemporâneo a este fervilhar de iniciativas – pontuais, incompletas, que nem sempre têm o alcance desejável, nem sempre são feitas da melhor maneira, mas cuja iniciativa é muito importante, por vir lembrar que há muito que fazer – que recebo um pedido (mais um) para escrever uma menção de apoio ao nosso Mamadou Ba – que tem servido, em Portugal, de porta-estandarte da luta antirracista. Neste mês, em que estou a organizar, para uma revista, um dossiê (mais um) sobre racismo e a necessidade de promover uma formação antirracista (desta vez) desde a infância (é tarde, de facto, quando se começam a trabalhar estes assuntos com alunos de graduação e pós-graduação). Nesse processo, tenho lido vários artigos e livros, alguns com relatos que fazem corar os menos sensíveis, não só por retratarem episódios racistas, mas por envolverem crianças. Está bem visto que o racismo é uma praga. Que ela continue a existir em Portugal, neste país à beira-mar plantado e de “brand(c)os costumes” incomoda-me mais. O racismo é crime, mas vários dos seus seguidores (uma expressão tão em voga neste tempo em que as redes sociais têm um papel tão activo) e promotores vão passando incólumes como pelos pingos da chuva. Não pode ser. É uma vergonha. Tenham vergonha.
29 de Novembro de 2022
Patrícia Ferraz de Matos
antropóloga, investigadora