Um é ativista comprometido com os direitos humanos e as lutas fundamentais pela igualdade. O outro promove há décadas o ódio e a violência. Um é uma voz ativa no debate público sobre as origens e a realidade da discriminação racial, o outro foi condenado repetidamente pelos tribunais por coação agravada, posse ilegal de armas, ofensa à integridade física qualificada, discriminação racial, difamação, sequestro e extorsão. Um é negro e orgulha-se das suas origens, o outro acha que africanos são macacos e brinca com um jogo em que a cara do primeiro é o alvo.
Um tem a coragem de chamar pelo nome quem é cúmplice, orquestra, incita ou enquadra um assassinato. O outro – o tal que orquestra, incita, manda e enquadra crimes de ódio há décadas – diz-se difamado. Um está acusado pelo Ministério Público e pelo juiz de instrução por ofender a honra do outro. O outro ri-se com a manifesta deferência judicial perante os seus argumentos.
Um é Mamadou Ba, o outro é Mário Machado.
Somos pessoas que não podem ficar caladas face às iniciativas que tentam transformar o antirracismo e ativistas antirracistas em inimigos da democracia, sentando no banco dos réus Mamadou Ba. O Estado e as suas instituições não podem ser mobilizados para silenciar a defesa da dignidade e da democracia para premiar a violência e o racismo.
Aqui continuamos, pessoas de proveniências variadas e diferentes gerações que não suportam o racismo nem as suas formas de violência, declaradas ou subtis. Não criámos perfis automáticos. Cada um/a de nós é uma pessoa de carne e osso que não pode ficar calada neste tempo em que o racismo se normaliza no espaço público e a discriminação e violência encontram adeptos e ganham força no silêncio das pessoas decentes.
CALL THEM BY THEIR NAME
One is an activist committed to human rights and fundamental struggles for equality. The other has promoted hatred and violence for decades. One is an active voice in the public debate about the origins and reality of racial discrimination; the other has been repeatedly convicted by the courts for aggravated coercion, illegal possession of weapons, aggravated assault, racial discrimination, defamation, kidnapping, and extortion. One is black and proud of his origins; the other thinks Africans are monkeys and plays a game where the face of the first is the target itself.
One has the courage to call by name those who are accomplices, orchestrate, incite or frame a murder. The other – the one who has orchestrated, incited, ordered, and framed hate crimes for decades – claims his honor has been defamed. One has been charged by the Public Prosecution’s Office for offending the other’s honor. The other is laughing at the obvious judicial deference to his arguments.
One is Mamadou Ba, the other is Mário Machado.
We are people who cannot remain silent in the face of initiatives that try to turn anti-racism and anti-racist activists into enemies of democracy by sitting Mamadou Ba in the dock. The State and its institutions cannot be mobilized to silence the defense of dignity and democracy in order to reward violence and racism.
Here we are, people of varied backgrounds and different generations who do not withstand racism or any of its forms of violence, declared or subtle. We have not created automatic profiles – each one of us is made of flesh and blood. We are people who cannot remain silent when racism is normalized in the public space and discrimination and violence find supporters and gain strength in the silence of decent people.
OS BOIS, OS NOMES, A CARNE E OS OSSOS Fim e continuidade
De 8 de novembro a 31 de dezembro de 2022 foram aqui publicados mais de meio milhar de depoimentos de quem o quis fazer nesta presença solidária perante os ataques de que Mamadou Ba é alvo. Artistas de todas as artes, gente de profissões técnicas e das letras, investigadores e investigadoras em diferentes áreas, proletárias da indústria e dos serviços, jornalistas, professores e professoras de todos os níveis de ensino e que sabem que as novas gerações, inevitavelmente, terão que lidar com o mundo que hoje conseguirmos construir, parlamentares na Assembleia da República, no Parlamento Europeu, nos Parlamentos de Genève, Lausanne eVau na Suíça, no de Berlim e no Brasil marcaram aqui presença. Autarcas e associações profissionais, grupos de estudantes, instituições de investigação dos Estados Unidos, Canadá e Brasil que se quiseram associar coletivamente a esta campanha, associações de defesa dos direitos humanos e do combate às discriminações raciais, organizações de luta contra a homo e a transfobia, feministas e antirracistas, ativistas pela justiça climática e pelo direito à habitação, moderados e radicais, da Europa, das Américas e de África, gente que aqui veio deixar os seus argumentos, as suas palavras de solidariedade, a sua determinação em demonstrar que Mamadou não está sozinho.
Mamadou não está sozinho porque este processo de que tem de se defender em tribunal é um processo contra todas as pessoas que lutam diariamente contra o racismo e todas as discriminações. Muitos dos depoimentos aqui recolhidos afirmaram-no claramente: Mamadou Ba são todas as pessoas que combatem o racismo e querem uma sociedade livre e de iguais. Este é um processo contra a inteligência elementar e contra o direito de livre expressão, é sintoma declarado de que as instâncias judiciais que levam Mamadou a tribunal se deixam instrumentalizar pela agenda da extrema-direita mais violenta, na defesa do “bom nome” de gente que mata, violenta e faz do ódio a sua bandeira. Mamadou Ba não está sozinho porque somos muitas as pessoas que não viram a cara à violência racial de que foi alvo Cláudia Simões, à barbaridade do assassinato de Bruno Candé ou à justa indignação dos jovens do Bairro da Jamaica. Mamadou Ba nunca estará sozinho porque a impunidade perante a violência policial como aquela que aconteceu na esquadra de Alfragide, acabou, ou porque as mortes sem explicação dentro das prisões, como a de Danijoy em 2020, não ficam mais sem resposta.
Fomos camaradas e gente amiga de Mamadou Ba quem garantiu esta recolha de depoimentos e a sua partilha online. Aqui ficam mais de meio milhar de depoimentos com milhares de palavras e imagens, exemplo maior da solidariedade concreta, ferramenta fundamental para o futuro coletivo. Continuaremos a dar notícias deste julgamento infame e a fazer em cada momento tudo aquilo que a consciência nos ditar: talvez um poema, certamente uma revolução.
Em carne e osso, na carne e nos ossos do racismo estrutural de que este processo judicial é só mais uma prova. Não esquecemos Alcindo Monteiro, não largamos Mamadou Ba!
THE SPADES, THE NAMES, THE FLESH AND THE BLOOD End and continuity
From November 8 to December 31, 2022, more than half a thousand statements were published here by whoever wanted to do them in this solidary presence in the face of the attacks targeting Mamadou Ba. Artists of every art, people from technical professions and humanities, in different fields, proletarians of industry and of services, journalists, teachers of all education levels who know that the new generations will inevitably have to deal with the world that we can build today, parliamentarians in the national Parliament, in the European Parliament, in the Parliaments of Geneva, Lausanne and Vau in Switzerland, in Berlin and in Brazil were present here. Local elected representatives and professional associations, student groups, research institutions from the United States, Canada and Brazil who wanted to join this campaign collectively, human rights and anti-discrimination associations, organizations fighting homophobia and transphobia, feminists and anti-racists, activists for climate justice and the right to housing, moderates and radicals, from Europe, the Americas and Africa, people who came here to leave their arguments, their words of solidarity, their determination to demonstrate that Mamadou is not alone.
Mamadou is not alone because this process that he has to defend from in court is a case against all people who fight racism and all discriminations on a daily basis. Many of the testimonies collected here have clearly stated this: Mamadou is all the people who fight racism and want a free society and one of equals. This is a process against elementary intelligence and against the right to free expression , it is a declared symptom that the judicial bodies that take Mamadou to court allow themselves to be instrumentalized by the agenda of the most violent extreme right, in defense of the “good name” of people who kill, assault and make hatred their banner. Mamadou Ba is not alone because we are the many people who have not turned a blind eye to the racial violence that targeted Cláudia Simões, to the barbarity of the Bruno Candé’s murder or to the just indignation of Jamaica neighborhood’s youth. Mamadou Ba will never be alone because impunity in the face of police violence – such as that which occurred in Alfragide’s police station – is over, or because the unexplained deaths inside prisons, such as Danijoy’s in 2020, no longer remain unanswered.
Comrades and friends of Mamadou Ba ensured this collection of testimonials and their online sharing. Here are more than half a thousand testimonies with thousands of words and images, a major example of concrete solidarity, a fundamental tool for the collective future. We will continue to provide news on this infamous trial and, at every moment, do everything that our conscience dictates: perhaps a poem, certainly a revolution.
In the flesh, in the flesh and blood of the structural racism of which this judicial process is just another proof. We do not forget Alcindo Monteiro, we do not leave Mamadou Ba’s side!