Kitty Furtado

Primeiro ignoram, depois tentam ridicularizar e finalmente, criminalizam – ou pelo menos tentam. É este o percurso normal das ideologias hegemónicas na relação com os que se lhe opõem. Deste modo, a notícia de que Mamadou Ba vai ser julgado em tribunal parece-me o resultado previsível que decorre do facto de Mamadou ser um Homem Negro, muito inteligente, que ocupa o espaço público com uma reflexão sobre o racismo sistémico e institucional do nosso país e com propostas políticas antirracistas concretas.  Era evidente (embora não o tivéssemos previsto) que este momento iria acontecer. Mamadou Ba vai ocupar o banco dos réus, não pelo que disse sobre Mário Machado, mas pelo que representa.

É por ser quem é e por representar o que representa que a Justiça portuguesa desta vez foi célere dando prosseguimento à acusação, em menos de 24 horas. Se dúvidas houvesse, a provar o que digo está uma outra decisão dessa mesma Justiça, que no mesmo dia livrou Andre Ventura de ir a julgamento tendo, esse sim, dito mentiras altamente ofensivas sobre o historiador Fernando Rosas.

A minha liberdade acaba onde acaba a liberdade de Mamadou Ba; e ninguém pense que é diferente de mim. Ninguém está a salvo do ódio.

A Luta continua.

Kitty Furtado
investigadora – cecs, universidade do Minho