Luís Graça

Num país verdadeiramente democrático, não deveria ser preciso vir a terreiro dizer que estou solidário com Mamadou Ba. Num estado de direito democrático, o trabalho corajoso de Mamadou Ba seria desnecessário. Numa sociedade que tivesse resolvido os seus traumas coloniais, Mamadou Ba seria só mais um português a namorar num banco de jardim ou a brincar com os seus filhos no parque.

Mas Portugal precisa da coragem de Mamadou Ba —

porque nós não conseguiremos sobreviver aos efeitos da  normalização do discurso racista, sexista e classista sem que a sua voz se levante e chame os bois pelos nomes.

Mas só a sua voz não chega para defender a democracia — é preciso um coro de vozes que dê o corpo ao manifesto e se junte à luta antirracista, que cerre fileiras, que reme contra a maré.

A democracia precisa de todas nós, sem pusilanimidades, sem medos — porque, como diz o Mamadou, «o medo não nos salva de nada».

Porque Mário Machado é «das figuras principais do assassinato de Alcindo Monteiro» e porque o sistema de justiça não pode ser conivente com o ódio e com a barbárie, aqui estamos todas.

Sem medos, para o que der e vier, a defender, ombro a ombro, o direito a viver com dignidade, ao lado de quem sofre na pele o racismo, o fascismo e a intolerância — sem arredar pé, sem largar a mão de ninguém, olhando os bois olhos nos olhos. Todas. Juntas. Firmes.

Luís Graça
professor