Pedro Santos Costa

Antes de mais, uma declaração de interesses: Eu e o Mamadou somos amigos de carne e osso há 30 anos, ainda não havia redes sociais, mas já havia redes de solidariedade e foi aí, no combate ao racismo, que nos conhecemos.

Mas a amizade não é determinada pelos anos que se conhece uma pessoa, mas sim por estar ao lado dela quando é preciso e eu estou agora, e estarei sempre, ao lado do Mamadou.

Numa campanha anterior, brinquei com o Grilo do Pinóquio. Agora não me apetece brincar.

Quando grassa o autoritarismo e as tentativas de silenciar a liberdade de dizer verdades incómodas, quando as instituições normalizam a extrema-direita e o fascismo, quando activistas de várias causas da justiça social são levados a tribunal e a justiça se junta a um delinquente neonazi assumido, começa mesmo a ser preocupante.

A Noite dos Cristais foi há 84 anos, o fim da ditadura do Estado Novo vai a caminho dos 50, não podemos esquecer.

Não esquecemos, não branqueamos, nem perdoamos os assassinatos de tantos como a Catarina Eufémia, o Humberto Delgado, o Ribeiro Santos, o Amílcar Cabral, o Joaquim Carvalho Luís, o padre Max e a Maria de Lurdes, o José Carvalho (Zé da Messa) ou o Alcindo Monteiro.

Não esquecemos, não branqueamos, nem perdoamos o cónego Melo, Barbieri Cardoso ou o filho, Nuno Barbieri, Alpoim Calvão, Rosa Casaco, Marcelino da Mata, o pingalim do capitão Maltez, o Napalm, Wiriyamu, o Tarrafal, o “Plenário da Boa-hora”, os vigilantes (gorilas) nas faculdades e não queremos voltar a estes tempos.

A acusação a Mamadou Ba e a deferência com Mário Machado são inaceitáveis.

Parceiro, aqui estou, de carne e osso, do teu lado, disposto a chamar os bois pelos nomes.

Pedro Santos Costa
arquiteto