Caro Mamadou
A minha admiração por si vem de muito longe, desde que notei a sua coragem e sua consistência na defesa dos direitos humanos, na luta por uma sociedade social e racialmente mais justa. O Mamadou é um dos cidadãos mais exemplares que conheci ao longo dos anos e o Portugal democrático deve-se sentir orgulhoso por poder contar com cidadãos do seu calibre exemplar. É para mim um privilégio poder contar-me entre os seus amigos e admiradores.
Infelizmente, os meus estudos de sociologia do direito revelam que o sistema judicial é propenso a padecer de critérios duplos no tratamento de activistas consoante a orientação política do seu activismo. Só para lembrar um caso extremo, o activismo de esquerda era duramente punido pelos tribunais alemães da Republica de Weimar nos anos de 1920 enquanto os activistas de extrema-direita eram absolvidos ou punidos com escandalosa benevolência. O resultado conheceu-se uma década depois. Incito-o, pois, caro Mamadou, a continuar na sua luta que é muito maior que a sua pessoa e é por isso que lhe devemos a nossa gratidão e prometemos a nossa solidariedade.
Um abraço
Boaventura de Sousa Santos
Director Emérito do Centro de estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Professor jubilado da mesma Universidade
Distinguished Legal Scholar da Universidade de Madison-Wisconsin (EUA)