Valentina Desideri

É um absurdo e absolutamente injusto que Mamadou Ba seja levado a julgamento por chamar pelo nome correcto alguém que foi julgado e condenado por participar nos brutais ataques que mataram Alcindo Monteiro. Recordar este facto nas redes sociais é necessário para articular, debater e organizar o movimento anti-racista que Mamadou tem liderado durante anos. É este movimento, a sua capacidade de continuar utilizando as redes sociais para articular a luta, que também está a ser atacado neste julgamento. O facto de uma queixa tão politicamente motivada chegar a ser levada a julgamento é um abuso do sistema judicial, uma tentativa de intimidar ativistas e de criar precedentes para novas perseguições. Solidariedade com Mamadou Ba!

Valentina Desideri    
Artist – PhD Candidate at the Institute for Gender, Race, Sexuality and Social Justice, University of British Columbia  

 

Sandra Urceira

O que eles não perdoam ao Mamadou, e é por isso que o julgam, é a coragem! com que lhes diz, sem pedir licença, que Portugal é um país estruturalmente racista e, que falta vontade e coragem política para o combater.
Estamos juntos!

Sandra Urceira    
auditora interna  

 

Sandra Paiva

Conheço o Mamadou Bá há muitos anos. Sempre o conheci inflexível e inamovível. Inflexível no combate ao ódio, ao racismo é à discriminação. Inamovível na defesa dos direitos de todos, na procura de diálogo e pontes com os outros, na convicção profunda de que os valores que nos fazem livres e iguais são a essência da nossa humanidade.

Vivemos num tempo em que, mais do que nunca, é necessária inflexibilidade – contra o ódio, contra a violência gratuita e destruidora, contra o preconceito que mata, contra o branqueamento criminoso dos ideais fascistas e de quem, a coberto dos panos quentes de uma democracia sob ataque, os propagam como os ratos propagam a peste.

É preciso traçar linhas vermelhas bem definidas, chamar os bois pelos nomes e não engrossar o silêncio cúmplice e medroso que tão bem serve, e sempre serviu, os algozes.

O Mamadou tem toda a minha solidariedade – inflexível e inamovível.

Sandra Paiva    
economista  

 

Paulo Raposo

Mamadou Ba não precisa de quem o defenda de ataques racistas e fascistas. Não precisa hoje, nem nunca precisou no passado, porque sempre enfrentou com enorme coragem as perseguições, os insultos, as agressões, os processos e os ataques de certos sectores da extrema-direita e da direita em Portugal. Sempre esteve à altura dessa constante vigilância pidesca sobre a sua atividade política, dessas permanentes provocações, mais ou menos violentas, sobre as quais os muitos comentadores ou mesmo os seus adversários políticos no espectro democrático nunca souberam expressar uma palavra de solidariedade ou de apelo à justiça. Mamadou enfrentou o empolgamento da extrema-direita, respondeu a ataques racistas e xenófobos, manteve um posicionamento crítico sem recuos sobre a violência policial, e fê-lo sempre, junto com seus companheiros e companheiras do ativismo político, com enorme persistência e reiteradamente, sem se furtar aos olhares professorais e aos escrutínios doutrinais de uma certa esfera pública que teimava, e teima ainda, em o “empurrar” para o mesmo saco dos seus agressores.  Mamadou tem sido constantemente descrito como uma figura do “extremismo” e do “radicalismo” esquerdista – mesmo como se isso fosse afinal algo de impensável ou potencialmente antidemocrático – e, sobretudo, tem sido acusado de “racismo reverso”- esse conceito perverso, essa hipócrita figurinha ideológica criada para acusar as vítimas de racismo de violência racista por resistirem contra esse mesmo racismo. Mamadou Ba, continua hoje lutando como o faz desde há dezenas de anos, e uma vez mais neste processo judicial que recentemente lhe moveu o Ministério Público, contra o atavismo e cinismo de uma certa opinião pública e de uma certa postura política, aparentemente conciliadora e que reclama uma pacificação da sociedade portuguesa, mas que resulta apenas num apagamento dos conflitos e das feridas (a colonial, em particular), que classifica a evidente escalada da violência racial de mera criminalidade, e, que por isso, reitera os ataques às vítimas do ódio racial e aos que resistem ao racismo, numa réplica contemporânea dos “bons costumes” do Estado-Novo. E é por isso que me junto aos que não podem deixar de agradecer ao Mamadou Ba pela sua abnegação e pela sua entrega à luta e ao combate contra estes preconceitos, discriminações e ódios. Somos nós que precisamos de Mamadou. De muitos mais Mamadou. O que não precisamos é de ódio racial, de discriminações de qualquer tipo e de fascismo.

Paulo Raposo    
antropólogo, docente universitário  

 

Odete Cruz

Também eu quero exprimir a minha solidariedade e admiração pela coragem e coerência do Mamadou Ba na sua luta contra o racismo, uma luta que é nossa!

Odete Cruz    
professora aposentada  

 

Nuno Silva

Devemos muito ao Mamadou. O seu trabalho tem sido imprescindível, porque reclama a urgência do debate anti-racista para construção de uma democracia plena, porque sublinha o impacto do racismo estrutural e institucional na sociedade portuguesa, porque invoca a necessidade de discutir o passado histórico, para construir um futuro que inclua, de forma efectiva, pessoas racializadas, e porque defende, intransigentemente, a liberdade, a igualdade e a dignidade humana.

A sua presença enriquece-nos. E é com ele, com a sua honestidade e com a sua dedicação, que continuaremos a construir o caminho por uma sociedade mais justa e inclusiva.

Nuno Silva    
jurista e dirigente do SOS Racismo   

 

Tiago Ralha

Seria hilariante, se não pudesse ter injustas consequências, não representasse o desbaratar de recursos públicos e não espelhasse o estado do sistema de justiça em Portugal, ao mesmo tempo que se dá visibilidade e “tempo de antena” a uma das mais repugnantes figuras da extrema direita em Portugal. Levar quem quer que seja a julgamento por, sobre Mário Machado, afirmar que foi “uma das figuras principais do assassinato de Alcindo(Monteiro)”, não tem justificação possível. Não é só o não haver honra a ser defendida. É o facto de se tratar de um indivíduo que, não tendo sido condenado como autor material daquele homicídio  era e é uma das figuras principais do ódio racial que esteve na origem daquele e de muitos outros crimes com as mesmas motivações.. O reclamar pela defesa da suposta honra ofendida, perde sentido quando amiúde este exalta episódios como o que nesse dia aconteceu, como com a publicação recente de foto do almoço que juntou neonazis em 1995 e de onde partiram (incluindo M. Machado) para perseguir e espancar cidadãos pelas ruas de Lisboa. Não fosse o suposto ofendido calculista e etnicamente seletivo na escolha dos seus alvos, fazendo jus às convicções que já o levaram à prisão e outra coisa não faria, que apresentar queixa dos muitos que publicamente o responsabilizam pela morte de Alcino Monteiro, senão veja-se como com o artigo do jornal Observador, se ficou pela missiva de desagravo, publicado ao abrigo do direito de resposta. 

Abraço solidário

Tiago Ralha    
Licenciado em Sociologia