Neste “país dos brancos costumes”, já se sabe que ser negra ou negro é sinónimo de luta diária, numa sociedade estruturalmente racista, cujo passado colonial e as suas consequências – passadas, presentes e futuras – insiste em ignorar. Ser negra ou negro justamente inconformada/o com o lugar que a sociedade lhe reservou pela sua condição fenotípica e que, ainda por cima, ousa levantar a voz e o punho em luta, denunciando injustiças várias, pior um pouco. A luta, aqui, torna-se mais difícil.
Na História, todas aquelas e todos aqueles que lutaram contra sistemas de opressão sofreram represálias, sentido, com mais ou menos força, a dureza do sistema. Embora muito se tenha alcançado, quem luta pela causa anti-racista continua a ser alvo de um escrutínio absoluto que, por vezes, roça a obscenidade.
Aquela ou aquele que malpare denunciar e combater o racismo e a sua violência intrínseca é alvo de sistemáticos ataques, na rua ou nas redes sociais. As suas palavras são distorcidas e retiradas dos seus contextos para se fazer querer que o inimigo é o movimento anti-racista e toda e qualquer pessoa que dele faça parte ou com ele se solidarize, fazendo querer na ideia disparatada de que é o anti-racismo que provoca o racismo.
No entanto, a resistência está na ancestralidade do povo que luta, nomeadamente do povo negro que, em Portugal, se tem comprometido, incansavelmente, com a luta anti-racista e antifascista nas suas mais variadas frentes.
Mamadou Ba tem sido um dos rostos desta luta. Uma voz sensata contra o racismo, a xenofobia e todas as formas de opressão tão características da extrema-direita, à qual pertence Mário Machado, um ser abjecto e energúmeno que não suporta que coloquem o seu privilégio branco em causa e que, por isso, acusou o activista Mamadou.
Mas não deixemos que a Justiça seja cúmplice do neonazismo e condene o anti-racismo porque o que está em causa é uma tentativa de silenciamento da defesa da dignidade e da democracia e, como tal, o Sistema Jurídico português jamais pode silenciar um cidadão cuja voz tem sido incansável nesta luta; um cidadão comprometido e lúcido.
A minha total solidariedade com o Mamadou!
Sandra Machado
educadora e ativista