Há dias, numa conversa de café, ouvia alguém dizer ter assistido a um caso de discriminação racista no acesso a cuidados de saúde no setor privado. Quem fazia o relato, pessoa não-racializada, classe média alta, estudos superiores, dizia não ter tido coragem de intervir em favor da(s) pessoa(s) discriminada(s): por temer alguma retaliação da própria instituição de saúde (também ali estava na condição de utente) e de ser tomada por “defensora de ciganos”.
Coragem, intelectual mas também física, é precisamente o que sinto quando penso em Mamadou Ba. E de como à coragem se juntam nele inteligência, conhecimento e sentido de justiça, entre muitos outros atributos. De como ele encarna a forma como uma pessoa racializada é tratada por um sistema estruturalmente racista: por intimidação. A mesma intimidação que, tanto na situação anteriormente descrita como no absurdo processo que Mamadou Ba enfrenta, silencia/maltrata/mata vítimas/aliados e mantém o status quo cínico de que «Portugal não é racista».
Não podia, pois, deixar de manifestar total solidariedade com Mamadou Ba, pelo que considero ser mais uma forma de racismo que a nossa sociedade produz, neste caso pelo sistema judicial, quando decide prosseguir com esta acusação.
Pedro Barão
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