Há pouco mais de dois anos, um amigo meu, o Bruno Candé, foi assassinado num ato racista deliberado e premeditado. Eu fui educado para ser racista: fiz a instrução primária, o ciclo preparatório e o início dos estudos secundários durante a vigência do regime fascista português, com a ideia de preservação a todo o custo do império colonial por fundo. Punha-se em evidência a missão civilizadora da colonização como consequência da incapacidade inata das populações africanas de escaparem a um destino primitivo e selvagem. O racismo foi inventado para legitimar a opressão colonial. Entretanto, os impérios cederam o lugar a formas diversas de neocolonialismo, impostos pelo ocidente branco, que o racismo continua a tornar possível. O racismo é uma invenção historicamente recente do homem branco, em que que a alteridade e a curiosidade pelo outro são substituídas pelas formas mais diversas de supremacismo que justificam todo o tipo de violência, dos guetos mais ou menos disfarçados ao genocídio no Mediterrâneo. O racismo é sempre violento e o país onde nasci nunca deixou de ser racista, a ponto de nele se continuar a assassinar por causa da cor da pele. Por isso, a minha solidariedade com Mamadou Ba é incondicional, em nome da liberdade e da dignidade mais elementar.
Paulo Barrosa
artista plástico e músico na Companhia da Bruma