Tremo de injustiça e rosno de raiva ao receber a notícia de que Mamadou Ba vai a julgamento por ter “ofendido a honra” de Mário Machado. A honra de quem, Senhor Juiz? Do mais conhecido assassino skinhead em Portugal, de um homem abertamente neofascista?
Esta acusação é uma perfeita perversão do sentido e do dever da justiça democrática. Como canta Gal, “é preciso estar atento e forte” – atentas a quem procura normalizar o ódio, silenciar as vítimas, matar a liberdade. Fortes para lhes resistir.
Atentas e fortes como Mamadou Ba sempre esteve. Mamadou carrega no seu corpo o peso da violência colonial e racial históricas, que Mário Machado e tantos outros escolhem perpetuar, destilando o ódio e o preconceito, relembrando-nos da necessidade e urgência da luta antirracista.
O terror anda por aí – nas ruas, no parlamento, nos tribunais. Mas, graças a Mamadou e a tantas outras companheiras, há muito mais amor à solta. Tanta semente a rebentar, de luta e de alegria. Tanta rosa para tanto espinho. Tanta esperança para tanta vingança.
O combate ao racismo é um combate pela democracia, pela liberdade, pela vida. Um combate contra o ódio e pelo amor. E não nada há de mais radical que o amor. Esse amor que nos conecta a todas e que nos dá forças para caminhar – rumo a um mundo livre.
Obrigada por tanto, Mamadou.
Estamos aqui, de carne e osso, contigo. Nunca estarás sozinho.
FASCISTAS, RACISTAS, MACHISTAS, NÃO PASSARÃO!
Mamadou fica, Joacine fica, Alcindo vive.
Mariana Riquito
doutoranda em ciências sociais; investigadora & ativista