António Cunha (Toni)

Mamadou Ba recusa militantemente a invisibilidade. Na sua voz ecoa o carácter estrutural dum racismo que a retórica lusa diz ser residual. Com ele, vamos (re)aprendendo a ler a realidade, incorporando um olhar duma outra posição, sensível a coisas em que nem reparamos, com grelhas de análise necessariamente diferentes das nossas.

Mamadou Ba recusa militantemente que os bois não tenham os seus próprios nomes. Europa-Fortaleza é Europa Fortaleza – veja-se a política fronteiriça da UE – e bosta é bosta – veja-se o nível de infiltração de extrema-direita nas forças de imposição da ordem.

Obriga-nos a ver o que se quer invisível, a procurar esconderijos de onde o racismo espreita escondido, mesmo dentro de nós, e não tem medo das palavras: Mamadou Ba é um perigo público. Para esses, depois dos chacais, vieram os tribunais.

Companheiro: o aparelho de justiça dum local estruturalmente racista nunca estará do teu lado. Para isso estamos cá nós, tanta gente, e eu, claro, em carne e osso. Para escrever e para o resto.

António Cunha (Toni)
empregado de escritório