Que o Mamadou Ba (tal como a Joacine Katar Moreira) seja o alvo predilecto, mais fácil, mais à mão, da troça doente dos racistas, assumidos e disfarçados, do nosso país não temos muitas dúvidas. Peço desculpa pela agressividade desta catalogação inicial, mas conhecem alguém inteligente, que pense realmente pela sua cabeça, disfarçado de racista? Quanto a essas pessoas penso que pouco haverá a fazer, criminalizar o seu discurso, os seus gestos, talvez apenas ignorar a deficiência de intelecto. Mais educação, com certeza. Confesso ainda não haver descoberto solução para o racismo que se amplifica, que se desoculta por estes tempos convidativos ao egoísmo, condimento fulcral para a receita racializante. Não há soluções simples para o racismo, doença eterna, pandémica, global. Hoje, viralizando entre classes tecidas entre redes médias. Cinzentas, torpes.
Sentimos o perigo constante perto da garganta perante os sinais do sono da democracia. A extrema-direita racista, seja a institucionalizada ou a violenta, desenterra-se do escuro quando as instituições democráticas entram nesse sono profundo, comparando o incomparável, confundindo-se a cada sentença. Permitindo-se penetrar pelas artérias do ódio. Quando a democracia não consegue chamar os bois pelos nomes: não se pode tolerar a intolerância. Qual o perigo? O suicídio da democracia.
Todos precisamos que o poder escolha um lado, pois o poder tem sempre um lado, ou não fosse político. Manifestem-se os democratas. A comunicação social escolha como apresentar a Cova da Moura. A justiça escolha não proteger criminosos. O governo escolha como lidar com o racismo evidente no interior das forças de segurança. As forças de segurança escolham expulsar os seus elementos racistas. Cada um de nós escolha comprometer-se com o desejo de uma sociedade livre de intolerância, violência e crimes raciais.
Se não queremos voltar aos pesadelos do passado, não nos calemos por quem todos os dias luta por um mundo mais justo. Um cidadão português que esquece o conforto pessoal e dedica o seu tempo aos temas desconfortáveis para a tranquilidade frágil e preguiçosa de todos nós. Mamadou merece que sejamos cúmplices do seu oceano de coragem. Toda a força, companheiro Mamadou!
Francisco Rúbio
de manhã escritor amador, à tarde comunicador digital, à noite audiovisualista