«Adoro bater nas pessoas!»
Ao contrário de Mário Machado, Mamadou Ba não andou a pichar as paredes Lisboa, no final dos anos 1980, com cruzes célticas e suásticas ou slogans como «Poder Branco», «Morte aos pretos», «Portugal aos portugueses» ou «Em Treblinka judeu não brinca». Ao contrário de Mário Machado, Mamadou Ba não andou a brincar aos grupelhos neonazis ou «apenas» fascistóides, misturando siglas como FDN, MAN, Ordem Lusa ou Nova Monarquia. Ao contrário de Mário Machado, Mamadou Ba não andou pela movida dos grupos de música de braço esticado em saudação nazi, mas que logo negavam serem racistas, como os Guarda de Ferro ou os Lusitânia Oi. Ao contrário de Mário Machado, Mamadou Ba não saiu de Almada para Lisboa num desgraçado 10 de Junho, dia da raça lusitana, com uma horda de arruaceiros para espancar quem se atravessasse no caminho. Essa corrida de madrugada entre o Príncipe Real e a Rua Garrett, ao Chiado, com a agressão provada em tribunal de várias pessoas, terminou na morte de Alcindo Monteiro, um jovem português de ascendência cabo-verdiana que estava no sítio errado à hora errada. Essa corrida assassina, perpetrada por gente que ansiava por sangue, está bem contada no filme «Alcindo», de Miguel Dores. Foi por esse crime que Mário Machado foi condenado a quatro anos de prisão. Nos 20 anos seguintes, continuou envolvido em grupelhos de extrema-direita, do PNR à Nova Ordem Social; voltou a ser acusado, e por vezes condenado, por crimes tão variados como posse ilegal de armas, sequestros, extorsão e distribuição de propaganda nazi; tentou criar a secção portuguesa dos Hammer Skins, grupo especialmente violento; voltou a estar envolvido em agressões e confrontos entre grupos motoqueiros e diferentes facções nacionalistas; voltou a estar preso; pretendeu ir para a Ucrânia mandar uns tirinhos como se estivesse numa skin-house, mas foi recambiado por ter um cadastro demasiado suspeito até para os batalhões de lá. Mário Machado pode não ter assassinado ninguém, mas tem um historial de incitamento e prática da violência, da discriminação e do ódio. Em 2006 escreveu «Um desabafo» no blogue Fórum Nacional, do qual se destacam estas duas frases assassinas: «Um dos anos mais felizes que tive foi o ano que esfaqueei 11 pessoas, record absoluto, o sentir da faca a entrar, o inimigo a desfalecer, o seu olhar de pânico, tudo isto em conjunto dá-me vida, recarrega-me as baterias. Adoro bater nas pessoas!»
Ao contrário de Mário Machado, Mamadou Ba nunca esfaqueou ninguém e luta por uma sociedade de iguais. É por tudo isto que estou contra Machado e ao lado de Mamadou.
Pedro Cerejo
tradutor e revisor de textos