Estou há diversos dias a olhar para o site e a pensar que talvez fosse boa ideia mandar uma palavra, mesmo que por mais modesta, de solidariedade para com o Mamadou Ba. Demorei, mas depois percebi, ao refletir numa frase mítica e amplamente conhecida de Martin Luther King, que o nosso silêncio só beneficia quem da história quer se aproveitar para resgatar algo ultrapassado, mas ainda (violentamente) muito presente.
Vivendo fora do país, noutro onde ainda há pouco menos de meio ano a extrema-direita ultrapassou todos os resultados que até então tinha alcançado, todas as vozes que se insurgem contra o racismo, a xenofobia e a extrema-direita são importantíssimas e devem ter toda a solidariedade de quem nestas lutas participam, mas também da sociedade civil. Encarar este problema como uma mera circunstância ou uma simples fase temporal foi precisamente o erro cometido que originou a que, mais de 40 anos, um partido claramente fascista tivesse a representação mediática e parlamentar, para não falar do resto, que tem. Ao Mamadou, e a tantos outros e tantas outras, a minha total e incondicional solidariedade. Porque quem está de facto no banco dos réus não é só ele. É a democracia, a inclusão e a dignidade. E que 48 anos depois da Revolução de Abril se dê cumprimento integral do programa do MFA e a descolonização seja, por fim, praticada nas mentes da sociedade portuguesa.
Mário Martins
trabalhador em logística