Dado que Mamadou Ba vai a julgamento perante um tribunal, é necessário dizer com força que somos todos e todas Mamadou Ba e que, como ele, também pensamos que Mário Machado é um nazi responsável pela morte de Alcindo Monteiro, rapaz que morreu em Lisboa, em 1995, por elementos do grupo de ‘skinheads’ de extrema-direita do qual o Machado fez parte. Claramente, pouco nos preocupamos com a verdade judicial que absolveu Machado, porque a questão é política e nenhum tribunal pode apagar certas responsabilidades. Se um juiz leva Mamadou a julgamento por estes motivos, então esse juiz deve levar todos e todas nós, militantes antirracistas, perante esse tribunal. Ao juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), queria dizer que pode tranquilamente ampliar a decisão instrutória com o meu nome e muitos mais nomes e apelidos. Fico à espera, se esta é a democracia em Portugal o juiz tem que levar muitas mais pessoas! Todos e todas queremos ser julgados por esse tribunal, porque também pensamos como Mamadou! O antirracismo não se julga em frente ao tribunal, aliás se tem que ser julgado: aqui estamos!
Em segundo lugar, queria acrescentar que é muito perigosa esta decisão do tribunal: numa fase política onde em toda a Europa a direita ganha consenso (a Itália é um exemplo claro) escolher de levar para o tribunal uma pessoa como o Mamadou significa legitimar o papel político da extrema-direita. Enfim, mais uma vez, as instituições liberais abrem a porta à extrema-direita, sem perceber a importância pública dos atos dos tribunais. Com Mamadou Ba, contra esta campanha de assédio judicial!
Francesco Biagi
investigador em sociologia urbana e militante da Stop Despejos, Habita e do espaço Sirigaita