Conheci Mamadou Ba devia ser 2017, por ocasião de uma filmagem sobre o necessário reconhecimento e a mudança de obras públicas e símbolos coloniais portugueses nas ruas de Lisboa (e um pouco por todo o país). Já então, Mamadou Ba era uma presença chave, importantíssima voz, eloquente, consciente, inabalável, das lutas antiracistas no nosso país.
Mamadou Ba é, de facto, um professor: de história e de uma justiça outra, verdadeiramente democrática e igualitária. Que o sistema de justiça pelo qual Mamadou tanto se bate agora se vire contra ele, num gesto gratuito de ameaça, só demonstra que ainda há muito por fazer. Só lhe dá razão. É inadmissível que claros discursos de ódio, com consequências reais, passem incólumes diariamente, enquanto verdades mais do que documentadas de violência e discriminação sejam colocadas em tribunal. Liberdade de expressão não é permitir discurso de ódio, é denunciá-lo. E é isso que Mamadou fez e faz.
As mudanças pelas quais Mamadou Ba luta podem demorar o seu tempo, esbarrar contra muros, contras personagens ridículas e, bem vista as coisas, pequeninas no grande desenrolar da história, mas acontecem. Acontecem todos os dias, a caminho de outro futuro possível.
Solidariedade com Mamadou Ba.
Pedro Neves Marques
realizadore, artista e escritore