A normalização do racismo, do fascismo e do nazismo tem muitas vidas. Só que o nazismo é uma ideologia assassina. Em massa. Alcindo Monteiro é só uma das suas inúmeras vítimas mas o crime de que foi vítima não pode ser esquecido.
A 10 de junho de 1995, um grupo de neonazis decidiu sair pelas ruas do Bairro Alto a espancar pessoas. Acabaram por assassinar Alcindo Monteiro. Desse grupo fazia parte Mário Machado que foi condenado a quatro anos e três meses de prisão pela participação na expedição. O acórdão que o condenou era claro na conclusão:“cada autor é responsável pela totalidade do evento, pois sem a acção de cada um o evento não teria sobrevindo”. O neonazi nunca mostrou arrependimento. Antes pelo contrário. E continuou a sua política de ódio, a sua carreira de assédio, tendo sido condenado depois por vários outros crimes.
Anos mais tarde, Mamadou Ba, repete nas redes sociais o que tantos antes dele disseram. Que Machado é “uma das figuras principais do assassinato de Alcindo”. O neonazi coloca o caso em tribunal por “difamação”, decidindo jogar num dois em um: promover-se e atacar Mamadou, o mais conhecido militante anti-racista do país, que tem condensado na sua pessoa ataques e insultos racistas e que tem resistido corajosamente.
Ministério Público, primeiro, e o juiz Carlos Alexandre, a seguir, decidem validar a manobra. Como é possível que as instâncias judiciárias nacionais se deixem instrumentalizar desta forma?
É óbvio o que se passa aqui. Há um neonazi não arrependido que quis colocar o anti-racismo no banco dos réus. Enquanto isso, outros aproveitam para assobiar para o ar, para desconversar, para misturar o que não pode ser misturado, para fazer passar a mensagem que anti-racismo é o mesmo que racismo, que anti-fascismo vale tanto como fascismo.
A normalização do racismo, do fascismo e do nazismo tem muitas vidas. Nós temos muitas mais. Que ninguém hesite na escolha entre um profissional do ódio e um militante da solidariedade. Estamos com Mamadou Ba. Não passarão!
Carlos Carujo
editor multimédia