José Nuno Matos

Até há relativamente pouco tempo, a extrema-direita em Portugal constituía mais um problema criminal do que político. Tratava-se, sem dúvida alguma, de um problema grave, responsável por várias vítimas (como José Carvalho ou Alcino Monteiro), mas que se revelava bastante incapaz, até patético, na expansão das suas doutrinas. Sob novos moldes e roupagens ideológicas, a nova extrema-direita passou da violência física praticada em becos escuros à violência simbólica nas redes sociais, na comunicação social e no parlamento. Independentemente dos motivos que conduziram à decisão do Ministério Público e do juiz de instrução, o processo judicial a que Mamadou Ba foi sujeito reproduz a equiparação entre racismo e antirracismo, uma ideia que se encontra ao serviço de uma estratégia de legitimação das forças políticas, institucionais e não institucionais, responsáveis por ataques a comunidades racializadas e a grupos, movimentos e figuras que resistem aos mesmos. Neste sentido, estar solidário com Mamadou Ba significa lutar para que a liberdade e a igualdade não se limitem a figurar enquanto termos vazios na Constituição ou em qualquer outro documento legal, mas que se tornem consequentes, definindo a vida de todas as pessoas.  

José Nuno Matos
investigador