Paulo Granjo

Era uma vez um nazi que propagandeou a sua orgulhosa participação e/ou liderança em crimes de ódio racistas, incluindo num que acabou em assassinato.

Era uma vez um julgamento de que esse nazi saiu preso por uma série longa de crimes do estilo e em que foi dado como provado o envolvimento nesse ataque assassino.

Era uma vez um cidadão conhecido pela sua incansável acção anti-racista, da qual resultam permanentes insultos e ameaças até de morte, que mencionou esse facto.

Era uma vez um juiz permanentemente sôfrego de luzes da ribalta, que decidiu ter uma outra, ao aceitar um processo de difamação, por o cidadão ter dito do nazi aquilo que a justiça já dissera.

Era uma vez o iminente julgamento desse absurdo processo, revertendo quaisquer valores societais.

– Não pode ser, tem de mudar a trama do romance, meu caro, ninguém iria alguma vez acreditar que uma coisa dessas pudesse acontecer!… – interrompe o editor de best-sellers.

Na verdade, ninguém acredita. Mas não é ficção.

Que ninguém deixe acontecer!

Paulo Granjo
antropólogo