Pode-se gostar ou não do Mamadou (eu gosto). Pode-se achá-lo simpático ou não (eu acho, tem dias). Mas – e há sempre um mas – existe algo que ninguém pode negar, é que o Mandou Ba é um grande ativista antirracismo. Daqueles que estão no terreno, que não cedem e que sabem o quanto há a lutar numa sociedade cheia de bons costumes e tão vazia de humanidade.
Como alguém já disse, ser antirracista é um ato de Amor. De Amor, de sede de justiça, de revolta por não existir Igualdade e, sempre, um ato de coragem.
Coragem porque se toca em feridas abertas, mas que convém publicitar como saradas. Porque se ousa vociferar o que incomoda, o que se varreu para baixo do tapete. E porque se recusa estar em um mundo onde a cor da pele é ainda motivo gerador de tantos contrastes: ódios e medo, poder e humilhação, riqueza e pobreza.
O Mamadou Ba é assim.
Ir a tribunal ‘pelas mãos’ de um assumido racista e praticante da violência é um paradoxo num Estado democrático e defensor dos Direitos Humanos. Podia até ser uma piada em algum programa humorístico, só que não. É, sim, uma situação que nos deve envergonhar, incomodar e preocupar. Mais, que não nos deve deixar ficar indiferentes e calados. Afinal – pensando no ódio racial que prolifera entre alguns profissionais das forças de segurança, na antes impensável chegada da extrema-direita ao Parlamento do pós-25 de Abril ou ainda, a título de exemplo, nas recentes declarações racistas de um deputado na Assembleia Nacional Francesa -, normalizar o racismo e o fascismo acarreta sempre uma fatura pesada, que todos acabam por pagar.
Ridicularizar ou procurar calar a luta antirracista é abrir caminho para legitimar o racismo enquanto argumento político, possibilitando que este se normalize na esfera pública. Enquanto isso, somam-se os casos de vítimas de um racismo que está bem vivo e que se revela, atua e perpetua em diferentes formas – violenta, estrutural e institucionalmente.
Obrigado, Mamadou Ba, por não baixares o punho. Que outros tantos se juntem ao teu e que não nos falte nunca a coragem para os manter erguidos.
Cláudia Elias
técnica de comunicação