Manuel Afonso

O Mamadou, sabe quem o conhece e com ele se cruzou, é uma pessoa calorosa, de sorriso pronto e riso fácil; corajosa e empática como o conteúdo da palavra camarada. Está, de novo, sob a mira da extrema-direita, sempre, e cada vez mais, levada ao colo pelo aparelho de estado. Se não fosse por mais nada, mereceria só por isso a minha total solidariedade.
Mas há mais do que isso. O Mamadou é um dos grandes lutadores pela liberdade e pela igualdade. Mais do que qualquer governante ou juiz, é um lutador incansável para que aquilo na Constituição Portuguesa representa ainda a memória de Abril seja prática e não letra morta. Por isso, a solidariedade para com ele é um dever.
Mas há mais do que isso. O Mamadou é uma das principais vozes e rostos da luta antirracista, uma das pessoas que mais e durante mais tempo denunciou e enfrentou a ideologia, as políticas e as práticas racistas que são genéticas no poder e no regime que nos governa e domina. Por isso, a solidariedade para com ele é parte essencial da luta pela emancipação das maiorias sociais, exploradas e oprimidas. É obrigatória.
E há ainda mais. O Mamadou, sem medo nem pejo, é um dos grandes antifascistas do nosso tempo, apontando o dedo ao cancro racista e xenófobo que se organiza nas margens da política, no aparelho de estado, nas forças de segurança e no parlamento. Por isso, os portadores do ódio reacionário, dos mais hooligans aos pretensos bem-pensantes, o escolhem como alvo. E por isso, nós nos erguemos como muralha, dando o peito às balas.
Uma só destas razões seria razão suficiente para dar a cara e o corpo em defesa do Mamadou Ba.
Mas é mais grave. A aliança desavergonhada entre um juiz revanchista e populista e um assassino neonazi aponta ao peito do Mamadou para atingir todas e todos nós. Para atingir quem trabalha e estuda, quem luta, quem quer uma vida melhor; para ferir o antirracismo, a esquerda, os movimentos sociais, a democracia e as liberdades. No Brasil, vimos como uma aliança semelhante serviu para tentar criminalizar a esquerda e os movimentos sociais, abrindo caminho ao pesadelo bolsonarista. Numa Europa ensombrada pela nuvem de chumbo dos novos fascismos, a ameaça não é menor.
Por isso dou o nome, a cara, o corpo, o tempo e a energia em solidariedade. Sejamos muralha: sem brechas, sem hesitações, sem medos. Todas e todos os que lutam, os que amam a liberdade e a democracia. Porque hoje, como antes, é na solidariedade a este enorme homem a quem tanto devemos que se vence o combate contra o ódio fascista.

Manuel Afonso
livreiro