Há muito que os mais bafientos representantes do racismo querem fazer de Mamadou Ba um exemplo. E a expressão do seu ódio é tanto maior quanto mais ele resiste, sempre de punho erguido, sorriso afetuoso e cheio de gente à sua volta. Se mais provas fossem necessárias, depois de anos de ameaças e perseguições, eis a derradeira, com o próprio poder judicial a querer condenar, em tempo recorde, um ativista antirracista por difamação da suposta “honra” de um neonazi que faz da violência, do ódio e do crime o seu modo de vida. Nada que nos espante, infelizmente, num país que tão eficazmente tem conseguido varrer para debaixo do tapete o seu passado colonial e a violência racista que tantas vidas já ceifou na nossa história democrática. Mas não deixa de ser sintomático que tanto o juiz, como o próprio ministério público, secundados pelas irresponsáveis declarações do primeiro-ministro, se sintam politicamente legitimados para equiparar um criminoso racista sucessivamente condenado a um generoso ativista que há décadas luta pelos direitos humanos no nosso país.
A caminho dos cinquenta anos de democracia, há quem queira que o racismo estrutural, sistémico e institucional fique de fora da conversa, num exercício de branqueamento da nossa longa e persistente história colonial e racista. Só que para isso é preciso conseguir calar Mamadou Ba, intimidando dessa forma todo o movimento antirracista que luta pela igualdade, a democracia e a justiça neste país. O que eles não sabem é que já não têm forma de silenciar quem decidiu ocupar o seu lugar de fala. E que a brutalidade de todas as perseguições e intimidações continuará a enfrentar a contagiante e irreversível onda de solidariedade e resistência em que tem sido erguida a luta contra o racismo. Há um futuro à espreita que se precipita em cada gesto de companheirismo. Um futuro possível em que não teremos medo de escurecer a esperança que dá cor à luta e aos afetos que a guiam. Vamos a ela Mamadou!
João Mineiro
investigador