Fernando Pinto

Solidariedade com Mamadou Ba

Não conheço pessoalmente Mamadou Ba, nem acho que isso seja importante. Sei que luta pelo fim do racismo em Portugal, e isso eu lhe agradeço. Sei que o faz com risco da própria vida, o que é inadmissível, e isso obriga-me a tomar posição. Não é tolerável que quase 50 anos após a extinção de um regime que, embora fascista, recusava o epíteto de “império colonial” e afirmava, embora tardiamente, que “de Minho a Timor” todos tinham os mesmos direitos, ainda haja hoje gente que tal recuse. Isto porque, orgulhando-se Portugal de ter sido o país que iniciou a globalização, ainda há quem entenda essa globalização num sentido único, ou seja, numa lógica estritamente colonial! Portugal foi um dos países que, ao longo da sua história, se envolveu no degradante comércio da escravatura transcontinental, ou seja, dedicou-se a desterrar africanos para a Europa e para as Américas, contra a sua própria vontade. É por isso estranho, para não dizer estúpido, que haja elementos dos povos responsáveis por essa migração forçada e maciça, que hoje lutem contra as suas consequências! É, claramente, uma derrota anunciada, por mais crimes que cometam, por mais violência que desencadeiem, por mais afirmações bacocas e reaccionárias que façam, por mais esforços que desenvolvam. Estão a ir em sentido contrário à marcha da Humanidade e da própria lógica da vida. Os princípios da igualdade e da fraternidade contra o qual se rebelam são os princípios que hoje norteiam o Mundo tal como o conhecemos, constituindo mesmo a pedra basilar das Nações Unidas, reflectido logo no artigo primeiro da Carta dos Direitos Humanos, a que todos os Estados estão vinculados. É por tudo isto que estou e estarei sempre solidário com todos os que lutam pelos direitos humanos independentemente da sua origem social ou geográfica, do sexo e da sua orientação, ou credo que eventualmente professem. Estou e estarei sempre solidário com quem luta por esses direitos tanto no Irão, na Índia, no Brasil ou em Mianmar, como na Rússia ou, como é o caso vertente, em Portugal. Para que não se esqueça, aqui fica o artigo primeiro da Carta Universal dos Direitos Humanos:

Artigo 1 – Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Fernando Pinto
arquitecto