Renata Coutinho

Querido amigo Mamadou,

Venho aqui não apenas para prestar minha solidariedade a você e à sua luta que perpassa mais de 3 décadas, mas, sobretudo, para fazer a obrigação que me cabe e que cabe a todos aqueles e aquelas que se comprometem, de fato, com a luta antirracista.

Sabemos que a Justiça, a ordem jurídica, assim como todas as dimensões da estrutura social são atravessadas pelo racismo, de tal modo que a valoração moral e ética atribuída à vida de pessoas negras não correspondem, nem sequer se aproximam do valor dado a vidas de pessoas brancas. Como você mesmo me disse, a violência racial é consentida porque não nos atribuem o mesmo valor humano.

Mas você, meu amigo, é símbolo da nossa resistência; da transformação e da construção de uma sociedade pautada pela igualdade racial. Uma igualdade que, diga-se, beneficiará não somente a comunidade negra, mas sobretudo os não negros, porque da paz social sempre dependerá o nosso direito de existir com a dignidade que nos cabe.

Sua luta (nossa luta) é pelo Amor para olhos capazes.

Que o Ouro de Oxum seja sua armadura e que Ogum te mantenha forte até a vitória!

Axé!

Renata Coutinho
doutoranda pela Universidade de Coimbra, colunista na Carta Capital, advogada