As sementes do mal,
quem as lança ao mundo são,
quase sempre, os pais e os mestres.
Tu, [pai-Justiça], porque não dizes ao teu filho
Que o seu [avô-Ditador] foi déspota;
Que tu viveste numa época de injustiças;
Que ele poderá viver num mundo diferente;
Mundo que tu prepararás para ele?!
Faz-lhe saber que,
Na transição dos seus avós para ele,
Perdeu-se o gene da megalomania,
Do [dominador egoísta-Fascista],
E do Homem sem alma.
Faz-lhe saber que,
No locus desse gene
Surgiu o da [fraternidade-Liberdade],
Da coexistência [pacífica-Revolução]
E da ajuda mútua.
Não deixe que alguém continue
A inculcar-lhe [diferença-Intolerância],
Nem contribuas com recordações
Que a história não reza.
Proteja-o das [más imagens-Fascistas].
Ensine ao teu [filho-Ma(n)chado de Sangue] que
É feio dizer com intenção
Preto, branco, vermelho ou amarelo.
Mas é bom e civilizado chamar:
Ó companheiro! Ó [irmão-Cidadão]!
Mesmo com certa resistência,
O Mundo, em cada dia que passa,
Está-se tornando de [todos-Nós].
Desconhecendo as fronteiras dos Homens
Os mesmos males afetam a todos [, diferentemente].
Apesar desta clara [realidade-Racista],
Os Homens cegos e surdos
Não se rendem às evidências.
Se também fossem mudos
Evitar-se-ia ouvir “vai para a tua terra”.
[Porque ir para a Nossa Terra,
Nunca poderá ser um insulto.
E sim uma Liberdade.]
E tu meu [irmão-Justo]! Ensine ao teu [filho-Déspota] que,
Tudo quanto aconteceu, foi para
[Não foi para] Cumprir os desígnios da História.
Tudo é ajustável ao seu [tempo-Presente].
Não se pode adiantar a História.
[…] lembre ao teu filho,
Aquelas histórias horrendas.
De homens com armas de fogo,
Com chicotes de grilhões.
Que dormiam sobre cadáveres.
Pois, essa [não] é uma história velha,
[Mas é] Velha demais para interessar.
Se não tem nada de educativo
Só pode servir para desunir.
Não desenterre o ódio [Irmão-Pai-Justo].
Irmão! [Hoje] Não continue chorando
Sobre o leite, há muito, derramado.
Dezenas de anos já passaram,
Tempo suficiente [para erradicar o Ódio e a Desigualdade na Justiça Portuguesa]
Para sarar as feridas [do Fascismo, e das Inverdades Coloniais].
Mostre ao [Mundo-Lusófono Plural de hoje], com orgulho,
A diferença de ser dominado e de ser livre
Aplique a “riqueza [Étnica, Democrática, Cultural] da terra na terra”.
E ama ao teu [irmão-Negro, Diferente, Português, Migrante] como a ti mesmo.
Aliás, é o que justifica a [chama- Encarnada] da Revolução.
Teu [filho-Ma(n)chado] está confuso.
Por um lado as [sangrentas] histórias
Dum colonizador condenável
E por outro lado a tua conduta
Não menos condenável.
De quem será a verdade?
Dos que choram pelo bolo perdido
Ou dos que açambarcaram o bolo
E dão [migalhas-Injustas] aos seus [irmãos-Portugueses].
É um caso para ponderar.
Por isso te digo, [irmão-Justo]:
Esquece os ressentimentos!
Porque não há vencidos nem vencedores [na cepa Racista].
Todos perderam a batalha.
Foram derrotados pelas evidências.
A Mamadou Ba, e a todas as guardiãs da Democracia,
Solidariedade sempre. Verdade, e união reinventam a história.
Mas é urgente agir no tempo d’Hoje,
Para garantir um Amanhã democrático, às gerações vindouras.
A partir de “O Passado e o Presente”, de Paulo T. Bungué (1996)
Welket Bungué
ator, cineasta, artista, contra-racista