Conheço Mamadou Ba pessoalmente há muitos anos. Combativo, sempre pronto a debater ideias, já estivemos em reuniões, conversas, jantares; caminhámos juntos em tantas intervenções-concentrações.
Abraça qualquer repto com direitos humanos. Testemunhei a sua defesa em episódios que envolveram níveis de violação distintos: dos direitos de jovens mulheres aos direitos dos mais pobres e velhos, além, claro, da sua missão maior que tem sido o combate à discriminação étnico-racial.
Nos piores constrangimentos, e já foram vários com diferentes níveis de intensidade, a que possa ser sujeito, Mamadou não larga a sua demanda, é um valente, acredita que pode contribuir para um mundo onde o direito à habitação, ao trabalho, ao ensino superior, à saúde, não sejam esmagados em virtude da cor da pele, da maneira como as pessoas se expressam, do seu sexo, opções sexuais, da sua origem e pertença económico-social. A sua força, por vezes temeridade, é das mais duras e tocantes. É nessa insistência num caminho alternativo para aqueles a quem são vedados acessos fundamentais, mesmo quando há uma tentativa de a degradar, prendê-la, ou pô-la de castigo, que Mamadou tem, terá sempre, a sua obra. Uma obra que tem faltado, apesar de estar ao nosso alcance construí-la.
Soraia Simões de Andrade
escritora e investigadora