Não há lugar nesta terra
Quando vi a notícia da acusação de Mário Machado feita a Mamadou Ba, julguei que era uma piada. Creio que muita gente achou o mesmo. Como é possível que a justiça coloque, assim, no banco dos réus, um antirracista, em nome da honra de um racista, de um nazi, de um assassino?
Sim, há muitas formas de matar. Mário Machado matou tanto como os seus comparsas. Mário Machado continua a matar todos os dias com as suas ideias, com aquilo que defende: o ódio, a violência, a morte. E o Ministério Público mata-nos mais um bocadinho com esta decisão.
É importante dizermos que não há lugar nesta terra para nazis, não há lugar nesta terra para a extrema-direita, não há lugar nesta terra para o fascismo, não há lugar nesta terra para o machismo e não há mesmo lugar nesta terra para o racismo e a xenofobia.
E é importante que o façamos em uníssono, sem “mas”, sem fingidas moderações, sem pestanejar.
Esta terra só pode ser um lugar de igualdade e de paz.
Esta terra não permitirá que a injustiça vença. Esta terra não permitirá outra vitória que não seja a do amor e da fraternidade.
Mamadou fica, Joacine fica, toda a gente fica. Só não pode ficar o ódio porque, para ele, já não há lugar nesta terra.
Sílvia Roque
Professora de Relações Internacionais na Universidade de Évora e investigadora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra